Se antigamente eram os jovens que se preparavam para a volta às aulas
em fevereiro, hoje a história é outra. Os idosos têm cada vez mais
interesse, tempo e disposição para se engajar em cursos e atividades
culturais. Em São Paulo, o mês vai começar cheio de novas opções, pagas e
gratuitas, para eles (conheça algumas abaixo). Neste ano, tem faculdade
criando até núcleo específico de cursos para esse público.
Há
currículos tanto de atividades específicas para essa faixa etária como
também a possibilidade de frequentar aulas junto com os alunos regulares
nas melhores universidades da capital. 'Hoje, existe a perspectiva da
educação ao longo da vida. Tempos atrás, a vida era compartimentada: a
infância e a adolescência eram as épocas de se aprender e a velhice, de
se aposentar', diz a professora Meire Cachioni, do curso de Gerontologia
da Universidade de São Paulo (USP).
Meire foi uma das
responsáveis pela implantação do programa Universidade Aberta à Terceira
Idade (UnATI) na USP Leste, em 2006. Se, naquele ano, foram registradas
60 matrículas, hoje a unidade oferece mais de 500 vagas para idosos a
cada semestre. No campus Butantã, a iniciativa existe desde 1993. Outras
instituições públicas, como a Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), já abriram as
portas para os mais experientes.
Faculdades particulares também
têm olhado com bastante atenção para o público idoso. A Fundação Armando
Alvares Penteado (Faap), por exemplo, lança neste ano o Núcleo de
Cursos para a Terceira Idade, com programação semestral que inclui aulas
de Arte e Experiência Estética, Tecnologias da Informação e da
Comunicação, além de Qualidade de vida na Maturidade.
De acordo
com a psicóloga Valéria Lasca, coordenadora do núcleo, pesquisas indicam
que existe um número significativo de idosos vivendo em bairros como
Higienópolis e Santa Cecília, próximos à Faap. 'Identificamos que seria
interessante a faculdade oferecer à população de meia-idade um espaço de
educação continuada. Com a inversão da pirâmide etária, é preciso
proporcionar um envelhecimento digno, com programas voltados a essa
faixa e coordenados por especialistas.'
A psicóloga destaca o novo
perfil do idoso: 'Hoje, existem pessoas que começam projetos de vida
depois dos 60 anos. Resolvem aprender um novo idioma ou estudar
informática, por exemplo.'
Outra opção voltada exclusivamente para
esse grupo é a Faculdade Aberta para a Maturidade Ativa (Fama), fundada
há mais de 20 anos. A diretora, Cristina Fogaça, mestre em Gerontologia
pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), conta que a ideia para a
criação do curso veio quando sua mãe, também educadora, chegou à
terceira idade.
Diferentemente do que ocorre em outras faculdades,
os alunos têm voz ativa na escolha das disciplinas. 'Não há um
currículo imposto. Apresento uma lista de opções de matérias, das quais
eles escolhem oito por semestre', explica. O currículo muda a cada nove
semanas e não existe um período para se formar. Ninguém está ali para
pegar um diploma e correr para o mercado de trabalho. O prazer de
aprender é que motiva os alunos, alguns fieis à faculdade há 20 anos.
Apesar
da seriedade das disciplinas, que incluem Geopolítica, Filosofia,
História e Psicologia, a iniciativa ainda sofre preconceito. Segundo
Cristina, alguns acham que, em uma faculdade voltada à terceira idade,
as disciplinas só poderiam ser tricô, crochê e fofoca.
A
professora aposentada Cleonice Arroio de Almeida, de 70 anos, prova o
contrário. Ela estuda há 16 anos na Fama. Por quê? 'Primeiro, é pelo
relacionamento humano. Segundo, as aulas têm uma dinâmica muito boa para
trabalhar a memória. Embora não faça provas, as aulas são muito
participativas. Lá, você não é um simples ouvinte, é participante',
garante.
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