terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Qualidade é o maior desafio do Prouni

Segundo especialistas, o programa precisa enfrentar dois desafios para se tornar mais eficiente: melhorar o acesso à informação e, principalmente, a qualidade das instituições privadas que recebem a isenção fiscal como contrapartida do governo pelas bolsas de estudo.
A previsão da presidente Dilma Rousseff é que até o fim de janeiro o Programa Universidade Para Todos (Prouni) atinja um milhão de bolsas concedidas a alunos de baixa renda desde sua criação. Completando oito anos em 2012, o Prouni é considerado um avanço na política de educação para o ensino superior de acordo com especialistas ouvidos pelo Valor.

De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), de 2005 a 2010, foram concedidas 596 mil bolsas a estudantes, com 4,8 milhões de inscrições no período, e a oferta sendo ampliada gradativamente pelo governo. Para o primeiro semestre deste ano, 1,2 milhão de estudantes se inscreveram para concorrer a cerca de 195 mil bolsas. Em relação ao acesso ao ensino superior, o Prouni pode ser considerado bem sucedido de acordo com a professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Angela Soligo. "É um número representativo [um milhão de inscritos], que tem importância. Não podemos desprezar que alunos que nunca teriam chance de entrar em uma universidade hoje têm essa oportunidade. O momento agora é de dar um passo a mais", afirmou.


O sucesso do programa, no entanto, é relativo para a professora. A oferta de ensino nas universidades privadas apresenta deficiências, fazendo com que o Prouni não democratize o acesso ao ensino superior. "Nem todas as privadas são boas e ainda falta o acesso às públicas, que são as melhores do País", disse. Para ela, o MEC deveria "centrar fogo" nas instituições privadas para forçar a melhora na qualidade. "Deveria haver um zelo maior com as universidades que o ministério credencia e cadastra. Se o órgão for mais exigente, elas vão ter que melhorar as condições ao aluno e contratar professores mais bem qualificados. O Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais] tem capacidade de avaliar melhor isso."

O segundo desafio a ser enfrentado pelo programa apresenta uma face estrutural. O Prouni não consegue preencher todas as bolsas colocadas à disposição dos candidatos, sendo que em 2009 - último ano com todos os dados disponibilizados pelo MEC - das 247.643 vagas disponibilizadas, 161.500 foram preenchidas. Para o professor de sociologia da educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Valdir Alves de Souza, a deficiência na formação de alunos de baixa renda no ensino médio público brasileiro é parte da explicação. Outro fator que contribui para o quadro é a falta de informação. "É um público que tem dificuldade em terminar o básico, que não uma perspectiva de cursar o ensino superior. E a escola pública, em geral, não incentiva esses alunos a pensarem em cursar uma universidade. Muitos nem sabem que podem se inscrever."

Com o aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos, Sólon Caldas, diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), pede que o MEC aumente a faixa de acesso ao programa. "O limite de renda precisa ser revisto." Mesmo assim, o número de inscrições deste ano deixa o também professor otimista com a melhora do Prouni. "Não falta demanda. O que existe são vagas ociosas. É preciso então realinhar a oferta à procura por mão de obra pelo mercado e às necessidades do estudante para preencher todas as vagas."
(Valor Econômico)

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